quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Algumas impressões sobre o Alfa...


Toda a formação que tive pelo CFORM foi bastante válida na medida em que proporcionou estudo de temas pertinentes à prática de ensino de Língua Portuguesa. Esse estudo e as discussões tiveram como ponto de partida os fascículos do curso, que contemplam muito bem os diversos aspectos da formação de um professor de Português. As aulas foram enriquecedoras, aumentando meu arcabouço teórico e fazendo com que revisitasse minha prática enquanto docente. Mas o que deixou essa experiência de tutoria mais completa foi a possibilidade de aprender com tantos professores, sejam os cursistas, sejam os outros tutores e os formadores do CFORM e EAPE.
O trabalho com os professores cursistas foi uma confirmação do meu gosto pela sala de aula. Apesar de ser tão gratificante os momentos de formação na Unb e na Eape, sentia-me mesmo plena nas quintas-feiras, quando estava com os cursistas. A cada encontro era uma descoberta nova, um novo desafio, um olhar diferente, uma mudança de pontos de vista. Sempre dizia a eles que eu era a que mais iria tirar proveito desse curso, pois teria contato com o maior número de professores. E realmente, acredito que superei minhas expectativas com relação ao meu crescimento profissional, o qual cresceu junto com a sensibilidade de enxergar no outro uma possibilidade de ser cada vez mais humana. Tivemos problemas apenas com relação ao espaço físico, infelizmente a Secretaria não dispõe de um espaço próprio para realização de cursos de formação continuada, aliás, só tem a Eape, que para muitos é de difícil acesso devido à dificuldade no deslocamento.
Desde o início do curso, quando tivemos que abrir inscrições para professores das séries iniciais – 3 e 4 série – tracei um objetivo que ia além dos propostos pelo curso, o de quebrar o paradigma da divisão e da falta de diálogo entre professores das séries iniciais e os das séries finais. Fiquei muito satisfeita com o resultado; trocamos muitos conhecimentos e informações práticas que muitos desconheciam, por exemplo, o tipo de avaliação que é feita nas séries iniciais. Alguns encontros tiveram cara de fóruns. A participação nas discussões era maciça. Tenho certeza de que todos, principalmente eu, saíram dessa formação bem diferentes, com outro olhar a respeito do ensino da Língua. Espero ter passado com fidelidade o que recebi na minha formação, a qual se estendia nos encontros de quinta-feira.



Algo que me deixou entusiasmada, depois de alguns limites vencidos, foi a construção do Blog. No início tive muita resistência, pois não tenho muita afinidade com eletrônicos – gosto muito de escrever à mão, imprimir minha emoção na caligrafia – mas por livre e espontânea pressão tive que dar um jeito de fazê-lo. Hoje, tenho muito orgulho dele, pois para mim foi mais que um simples trabalho, foi superar mais um desafio. Pena ter pouco tempo para dedicar-me a ele, mas quero continuar alimentando-o com novidades e descontrações.
Gostei bastante do livro Raízes do Brasil, que livro denso... até hoje faço reflexões sobre ele. É um livro o qual todos os professores deveriam ler, aliás, num sonho um pouco distante, todos os brasileiros. Bom, as atividades passadas pelo Dioney enriqueceram minha formação, pois permitiram um maior aprofundamento acerca dos temas, a integração com o grupo e o prazer em aprender com os colegas na apresentação de seus seminários, tanto no conteúdo quanto na metodologia.
Esse curso foi uma grande oportunidade para mim. Conheci pessoas incríveis, das quais quero manter o contato sempre, e pude aprender muito com cada uma delas. Hoje, sinto-me mais segura dentro da minha profissão e mais certa de que não escolhi esse caminho por acaso. Lembrei-me agora do primeiro encontro em que um cursista, que infelizmente desistiu do curso, disse algo maravilhoso que descreve minha paixão pela docência: “O prazer de ser professor está no simples pretexto de conviver.” É isso que me motiva no dia-a-dia, a convivência, o descobrir o outro e o se deixar descobrir.
Apesar de já ter feito muitos cursos de formação continuada, neste curso fiquei mais sensível à importância desse trabalho, acho que pelo fato de vivenciar os dois papéis: o de professora e o de aluna. Foi uma experiência fantástica. Sugiro um Alfa para professores de 3 e 4 séries, pois estes não têm muita opção em cursos, na verdade quase nenhum. E para o Ensino Médio, dando continuidade ao trabalho feito nas séries finais. Afinal, estamos em constante formação e esta não deve encerrar-se juntamente com o curso.

sábado, 18 de outubro de 2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

MEMORIAL


Entrei na escola só aos sete anos de idade. Até então, todo contato que tinha com material escrito e leitura foi em casa, com meus pais e irmãos. Um fato o qual não posso deixar de mencionar é que tenho uma tia que é professora de História, hoje já aposentada. Sempre fomos muito ligadas, principalmente porque ela não teve filhos. A presença dela em minha vida me influenciou muito no que diz respeito à leitura. Com muita freqüência eu ia à sua casa a qual era também dos meus avós maternos. Foi lá que conheci Chico Buarque e outros cantores da música brasileira. Além disso, havia uma estante com muitos livros e algumas vezes eu os folheava por curiosidade.
Aprendi a ler e escrever em casa com minha mãe. Eu tinha muita vontade de aprender e muitas vezes tirava minha mãe de suas obrigações domésticas para me ensinar. Usávamos uma cartilha que era da minha irmã mais velha que fazia magistério. Devo ressaltar que venho de uma família de sete irmãos, na qual as cinco mais velhas são do primeiro casamento e eu e meu único irmão somos do segundo e último casamento do meu pai. Por isso nunca fui muito fã dos contos de fada com madrastas, pois minha mãe era madrasta das minhas irmãs e tudo aquilo confundia um pouco minha cabeça, até porque em muitas brigas elas chamavam minha mãe de bruxa.

O primeiro contato, que me lembro, com a escrita convencional foi com um livro de receitas dos meus pais – meu pai também cozinhava, fazia pães e bolos deliciosos – o qual tinha o nome Receitas da tia Dolores, de capa dura e tinha 3 volumes. Havia nele algumas receitas com foto de artistas, pois estas levavam seus nomes, como por exemplo “suflê Erasmo Carlos”. Tínhamos uma vitrolinha “Sonata” na qual escutávamos uns disquinhos de histórias. O que mais ouvíamos era o da Bela e a fera. Era um disco pequeno e da cor verde limão.

Minha mãe contava histórias para mim antes de dormir. Mas na verdade eu sempre queria a mesma, a da Gata borralheira. Lembrando-me disso entendi porque as crianças pedem que repitamos várias vezes a mesma história, porém ainda não sei o porquê dessa insistência, deve ser porque se sentem mais íntimas com aquilo que já conhecem. A parte da história que eu mais gostava e ficava doida para que chegasse a hora era a da varinha de condão. Não me lembro dos detalhes da história, mas sei que era diferente de todas que já ouvi. Isso é tão maravilhoso, é como se aquela história minha mãe a tivesse criado só para mim e hoje ela é uma marca só nossa.
Comigo a coisa fugiu um pouco do padrão porque eu é que pedia para minha mãe me colocar na escola. Não sei ao certo o motivo pelo qual ela hesitava em me matricular. Não tínhamos condições de estudar em escola particular e a escola pública só recebia alunos a partir dos 6 anos, série que chamavam de pré-escola, o famoso “presinho”. Mas finalmente chegou o grande dia em que conheci esse mundo escola. Fui para a Escola Classe Zoobotânica, na Candangolândia, onde eu morava. A escola era feita de lata.

Nos primeiros dias de aula, apesar de tanto insistir para ir à escola, chorava muito quando minha mãe ia embora. Fui para uma turma do Pré. No entanto, achava tudo muito sem graça porque eu já sabia tudo aquilo, pois já era alfabetizada. A professora ainda estava ensinando as formas e cores. Então, não sei se foi a professora que percebeu ou minha mãe que conversou com a diretora, mas fiz um teste na sala da direção para verificar se eu estava apta para cursar a primeira série. Foi engraçado esse teste, parecia um exame psicotécnico. Passei e fui para a primeira série. É um pouco chato chegar numa turma já formada, mas a professora Marta me acolheu bem. Não tenho lembrança de biblioteca nesta escola, na qual estudei até a segunda série. Na terceira fui para uma outra próxima e na quarta série voltei para a minha escolinha de lata. Um aula que me marcou foi na quarta série, em que as professoras – havia duas professoras, uma para Matemática e Estudos Sociais e outra para Português e Ciências – levaram um frango com todas as suas partes para estudarmos os órgãos do corpo humano. Os alunos ficavam numa rodinha, sentados no chão e a professora passava cada parte do frango numa bacia para observarmos e nos explicava as funções de cada uma. Sempre amei as aulas de Ciências, tanto que meu primeiro vestibular foi para Biologia. Ainda é uma área que gosto muito.
Ainda na quarta série, lembro-me de um livro, do qual não tenho certeza, mas acho que se chamava “ O Barquinho amarelo”. Era a história de um menino loiro que fazia um barquinho de papel e o colocava na água. Era uma história curta e que eu me lembre foi o primeiro livro literário oferecido pela escola para a leitura. Meus pais tiveram pouca escolaridade e em casa não tínhamos muitos livros infantis, por isso meu contato com livro literário foi basicamente na escola.

Da 5a a 8a série estudei na Escola Classe 2 da Candangolândia, hoje Centro de Ensino Médio. Nessa etapa li muitos livros. Alguns da coleção Vagalume, como “O mistério do Cinco Estrelas” que me envolveu bastante com seu suspense. Outro que gostei muito foi “Açúcar Amargo”, história de uma menina bóia-fria que trabalhava num canavial do interior de São Paulo. Um livro que fez muito sucesso entre as meninas foi “A marca de uma lágrima” e que eu também gostei e sofri muito com a personagem. A partir da sétima série passei a descobrir meu gosto pela escrita. Uma professora que me marcou foi a Delenir, de Português, a qual valorizava nossas produções e nos incentivava a escrever. Até hoje tenho um caderno de redação usado na sétima série, com produções diversas. Fico rindo da minha caligrafia e dos meus “erros” de grafia. Na oitava série a turma teve que ler um livro que tinha o título “A irmã de Simplício”. Creio que foi alguma doação que a escola recebeu, pois tinham vários exemplares e era um livro de edição bem antiga. O que me marcou na leitura desse livro foi o fato de ter meu sobrenome. Foi uma gozação na turma, já não bastava o tanto que tive que agüentar com a professorinha Clotilde e o Sassá Mutema. Mas enfim, era uma história bonita e triste. Às vezes me acho um pouco melancólica, pois até hoje gosto de histórias tristes e de sofrimento. Também na oitava série li alguns clássicos da literatura brasileira, como O cortiço, Um certo capitão Rodrigo, Iracema e outros.

Nessa escola havia uma biblioteca na qual pegava livros emprestados e fazia pesquisas e trabalhos. Era uma biblioteca organizada e com um acervo razoável. Lembro que houve uma votação para a escolha do nome dela e o nome vencedor foi Rachel de Queiróz. Algo que me marcou bastante na oitava série foi um livro que escrevi. A professora de Artes propôs que cada aluno produzisse uma história, isto é, um livro. O meu se chama “A liberdade de um amor” e ainda o tenho guardado e penso em algum dia editá-lo, quem sabe... Mas o que me fez guardar com carinho esse livro foi uma mensagem que a professora escreveu nele. Aliás, foi isso que fortaleceu meu gosto pela escrita. É bom quando nós professores percebemos o quanto é importante o papel do educador na formação dos leitores e escritores. Um pequeno elogio pode fazer uma grande diferença, e uma crítica mal feita pode acabar com um futuro escritor. Até hoje gosto de escrever, mas sei que tive sorte em encontrar professores que me incentivaram.

Do Ensino Médio tenho muitas recordações maravilhosas, pois fiz magistério na Escola Normal de Brasília de 1993 a 1995. Tive o privilégio de estudar com excelentes professores, inclusive há alguns dias, encontrei uma professora que trabalhou lá que me revelou que naqueles anos a escola estava recebendo um bom grupo de docentes, com uma ótima formação, além de passar por mudanças em seu Currículo. Por incrível que pareça não tenho muitas lembranças das leituras que fiz nesse período, aliás, lia muitos textos acadêmicos, na área de pedagogia, mas não me lembro de ter lido muitos textos literários. Fiz a leitura do livro “Capitães da areia”, de Jorge Amado, o qual não tive uma boa impressão e por isso ainda hoje não tenho interesse pelas obras desse escritor. Li também “Olhai os lírios do campo” e gostei muito. Uma professora que me marcou foi a professora de Biologia, Diana, a qual me deu aula no primeiro ano. Tínhamos aula no laboratório onde fazíamos estudos com microscópio. Eu achava o máximo, conseguir ver algo invisível como as células. Admirava tanto aquela professora, seus cabelos negros como os da Perla – cantora que marcou minha infância – e uma mulher tão inteligente. No entanto, um dia tive uma triste notícia: a professora Diana havia se suicidado. Não consegui acreditar, ficava pensando, aquela mulher tão linda e competente, tão bem sucedida, não poderia ser possível, então me questionava várias coisas que só entendemos em determinado tempo da nossa vida, ou às vezes nunca.

No magistério tinha bastante contato com literatura infantil e lá já se falava em preconceito lingüístico nas aulas de Didática da Linguagem. Foi um período de muito aprendizado e amadurecimento, tanto pessoal como profissional. A Escola Normal de Brasília, da qual brincávamos ser anormal, deu-me também algo de muito precioso, minhas melhores amigas, com as quais sempre fazia trabalhos e seminários. Não foi só na graduação que fui fazer seminários, já no magistério tínhamos muitos trabalhos nesses moldes, afinal, estávamos nos formando professores de pré à quarta série. Estudávamos Química e Física somente no primeiro ano. E essas eram as disciplinas as quais achava inúteis. Mas hoje, sei que são importantes, a forma como o professor ensina é que muitas vezes faz acharmos que são desnecessárias.
Bom, antes de chegar na graduação não posso deixar de falar de um professor de cursinho que me encantou e despertou uma grande paixão pela literatura, o professor Zé Roberto. Ele me apresentou a fantástica Clarice Lispector. A propaganda dele foi tão boa que logo comprei o livro “A hora da estrela”, do qual sou apaixonada. Ele dizia que para ler Clarice era preciso estar nu e totalmente despojado de si. A história de Macabéa me marcou. Mais uma vez uma história triste que mexeu comigo. Esse professor teve uma forte contribuição na minha decisão em fazer Letras.

Na graduação, cursei os dois primeiros semestres na Católica, onde tive o imenso prazer em ter aula com uma professora também apaixonada pela literatura, a Lívila. No terceiro semestre fui para a UnB. Um dos livros que gostei muito foi “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goeth. Também gostei muito de “Crime e castigo” e “Macário”. O que achei inusitado na graduação foi o individualismo. Não só porque sou um tanto quanto idealista, mas estava acostumada com o trabalho em equipe e depois tive que aprender, e ainda estou aprendendo, a produzir de forma individual. É claro que há parcerias mesmo que implícitas, mas é como se a partir do Ensino Superior a relação deixe de ser de parceria e passa a ser de concorrência. Essa é a parte chata de se tornar adulto num mundo capitalista. A própria maneira em que as turmas são dispostas já impede a unidade e a formação da equipe. Por isso que quando chegamos numa escola para exercer nossa profissão é tão difícil conseguir realizar um trabalho que envolva toda a comunidade escolar. Não aprendemos a trabalhar juntos em prol da mesma causa, pois cada professor tem um objetivo diferente e é isso que dificulta o alcance de tantas metas impostas pelas instituições do estado. Acredito muito no trabalho em grupo e desafio qualquer pessoa a me provar que o trabalho individual é mais eficaz e produtivo.
O curso superior deu-me um bom suporte profissional, mas foi na experiência em sala que pude colocar esse aprendizado na prática e pude descobri também que não posso parar nele. O trabalho como professora exige que estudemos continuamente e que estejamos sempre prontos a aprender algo novo. Dessa forma temos o valor da formação continuada, a qual nos permite nos avaliar e reconstruir nossa prática. Com a leitura, a cada dia aprendo mais e isso é que a torna encantadora e cheia de riquezas, pois:

A cada texto lido,
a cada material escrito,
temos um sentimento vivido.
Seja de dor
Seja de amor.
Não importa,
é no sentir
que se abrem portas.
Clotilde



segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Os intertextos do filme Narradores de Javé

Quando assistimos ao filme Narradores de Javé discutimos a questão do papel da escrita na sociedade. Os personagens se sentiam importantes em registrar sua históia naquele livro, pois na verdade era sua identidade que ia ali, seus antepassados, sua história. Era um texto científico e esse gênero nos remete a algo de muito valor social, uma vez que a históia só existe a partir da escrita, antes disso é só pré-história, como eu escrevi no relato sobre a visita à exposição Lusa - a matriz portuguesa. No entanto, o pesonagem de Antônio Biá foi excluído justamente por ser o únco a dominar a escrita na cidade. Com isso podemos dizer que a escrita só assume seu real valor numa comunidade, quando ela possui uma função social.
Além de discutirmos o papel da escrita, também levantamos muitos intertextos preentes na história. Um cursista comparou o filme com a história de um personagem famoso de São Sebastião, o Tião Areia, o qual é um senhor que ainda vive na cidade a qual possui uma praça que recebeu seu nome, pois é um dos moradores mais antigos. Ela ressaltou que na administração, nos documentos da história da cidade, não há nada registrado a seu respeito.

No filme há a presença de personagens (reais e fictícios) de outras histórias e contos, como a do herói medieal em seu cavalo branco, a do herói negro Zumbi dos Palmares, inclusive há uma cena em que aparece um quilombo. Também aparece a figura de Lampião ou outro herói sertanejo, como Idalécio e Maria Bonita como Maria Dina, representando a mulher sertaneja, a qual tem traços marcantes de amante e guerreira.
Características de contos fantásticos também são presentes na obra. As visões de Antônio Biá e as profecias de Maria Dina. Um símbolo que sempre aparece nos sonhos de Antônio Biá é a vela, a qual sabemos ter vários significados, a fé, esperança, luz, doação legítima a partir de sua auto destruição, na qual ela se consome para iluminar os caminhos, ou mesmo a simbologia do sagrado. E junto com a vela aparece a água, a inundação, na qual é o terror de todos os moradaores de Javé. O livro deve ser escrito para que se evite a inundação da cidade e consequentemente seu fim.

Os cursistas compararam a obra ainda com o livro de João Cabral de Melo Neto, Morte e vida Severina. O cursista Cido comparou o personagem de Biá ao Macunaíma, pois o primeiro tem características de um anti-herói, é considerado por todos o salvador, mas não consegue cumprir tal tarefa, sendo que também não é o vilão, e sim é mais uma vítima de um sistema que prioriza os interesses de uma minoria privilegiada. Biá também pode ser comparado à figura do malando João Grilo.

O filme apresenta um belo ensaio sobre a linguagem e sua ludicidade, na maneira do protagonista brincar com o ato de escrever e ao poetizar a respeito do papel e da tinta. Os seus escritos na parede, os poemas que faz, isso tudo mostra a relação dele com a escrita, sua defesa por uma língua que liberta e não que aprisiona. E ao final, quando ele faz aquele discurso aos conterrâneos, mostra-nos que mesmo essa competência lingüística, a qual nenhum outro morador daquela comunidade possui, não é o bastante para que permaneçam em suas casas. Isso mostra o diálogo que a obra faz com a teoria da Sociolingüística, pois segundo Bagno, no que concerne ao preconceito lingüístico, o importante não é o que se fala nem tampouco o como se fala, mas sim quem fala. Pois ele deixa claro em seu discurso que o povo estava agindo com muita ingenuidade ao achar que a escrita de um livro acabaria com um interesse político, aliás, que a história de Javé pudesse importar a alguém. Aquelas pessoas, infelizmente ainda, para a nossa sociedade, assim como chamou Biá, não passavam de um nada, de um povo anfíbio.

Manejando as palavras



Relato da cursista Liliana de São Sebastião


O manejo da palavra na leitura e na escrita
(Lucília Garcez & Margarida Patriota)

O encontro do dia 25 de setembro foi no auditório da Escola Parque 308 sul. As oradoras foram Lucília Garcez, uma mineira criada em Brasília, cidade que abriu os horizontes para o seu trabalho em favor da literatura e da língua portuguesa e é professora de Letras aposentada pela UnB e atualmente consultora na área de Educação - inclusive participa das escolhas dos livros didáticos no MEC - escreveu muitos livros infanto-juvenis e Margarida Patriota, carioca, professora da UnB e autora de ensaios, novelas, contos e livros juvenis. Também tem uma vasta experiência no exterior e apresenta um programa na TV Senado.
O encontro iniciou-se com o escritor João Bosco, consultor Legislativo, escritor e professor de prosa que foi o mediador do encontro. As escritoras falaram de suas vidas e experiências na área da leitura e escrita. A escritora Lucília contou sua experiência na época em que o ensino era “transmitido”, conta que vivenciou a “virada pedagógica”, na qual o texto passa a ser o centro, a escola privilegiando o uso da linguagem. Com a democratização do ensino ingressam nas escolas alunos que apresentam baixos níveis de letramento, vindos de famílias de analfabetos, diferentemente do que acontecia antes da democratização. O primeiro contato com a leitura vem das historinhas contadas pelos pais. Isso quando os pais são alfabetizados. A responsabilidade do professor que recebe esse aluno é respeitar as diferenças, a fala dos alunos, sotaques e desvios padrões, características regionais. Assim, o professor vai coordenar um trabalho onde cada um vai falar de si enriquecendo o conhecimento dos colegas, prevalecendo o respeito e as diferenças, uma “tolerância lingüística”. Lucília comenta também que desenvolveu as habilidades de leitura muito cedo, iniciou com os quadrinhos e romances. Aos 11 anos leu “Polliana”, em sua vida não tinha muito espaço para a TV.
A escritora Margarida Patriota também comentou um pouco a experiência que tem com a leitura, ao todo 28 anos de Mestrado e Doutorado. Faz palestras nas escolas até hoje e dá ênfase que, para escrever bem não é apenas ler bem e sim ler conteúdos relacionados ao interesse específico. O bom leitor tem o vocabulário rico, tem mais referências (cultura), interpretação de vida e até mais preparo para ler uma bula de remédio. Lendo para a platéia um livro- Nas tramas da emoção, a escritora sugeriu uma atividade que seria um concurso de poemas, com o intuito de ensinar à criança a dominar as convenções fonéticas-ortográficas e compreender que o mesmo som tem várias formas de ser registrado
Já a Lucília Garcez comentou que o texto literário tem tudo para o aluno aprender gramática: a língua oferece milhões de regências, estruturas que o aluno não vai ver na aula de gramática, na qual são ensinados 4 ou 5 verbos. Na leitura é possível internalizar esses verbos de foram mais rica, porém para isso vai ser preciso a prática da escrita. A escritora também mencionou o cuidado que se deve ter com a cobrança de fichas de leitura aos alunos, no lugar disso pode-se proporcionar um diálogo entre o leitor e autor do livro, podendo ser pedido uma crítica, confecção de um cartaz, um slogan, escrever uma carta para o autor. Precisa ser utilizado algo que estimule a leitura e não desmotive o leitor.
Ao final do encontro a escritora Lucília deixou uma sugestão para a escolha do livro didático: Verificar a adequação da linguagem, diversidade textual, deve conter sugestões de filmes, chats, livros e tudo o mais.
Para quem foi ao encontro valeu ouvir a experiência dessas escritoras com a leitura e escrita, refletir muito antes de escolher um livro didático ou até mesmo um simples texto e repensar a prática pedagógica, além de despertar a curiosidade na leitura do livro “Nas tramas da emoção”, de Margarida Patriota.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Seu Lunga - tolerância zero

Esse é o famoso personagem cearense o qual sou fã número 1. Êta homi bruto. Como diz minha mãe, é mais grosso que papel de enrolar prego. Olha só o que ele apronta, ou será que são os outros que aprontam com ele?

Seu Lunga chega num bar e pede uma caninha. O dono do bar diz a ele: "Ô seu Lunga desculpe mas acabou a luz." -Ele responde: "Eu vim aqui pra beber não foi pra tomar choque."
Outra:
Seu Lunga tá saindo da farmácia e um conhecido diz: "Tá doente seu Lunga?
E ele: "Então se eu tivesse saindo do cemitério eu estaria morto é?"

Resenha crítica de Raízes do Brasil




Resenha Crítica

Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda


O livro Raízes do Brasil traz, com todo um requinte literário , um olhar a respeito da formação do povo brasileiro e suas diversas implicações sociológicas, históricas, políticas, econômicas e antropológicas. Darei uma ênfase nas questões sociológicas e antropológicas, nas quais acredito estarem constantemente imbricadas.
O autor aborda a questão da colonização do Brasil numa perspectiva inovadora para a época, a qual rompe com paradigmas como o da miscigenação e do colonizador português, o qual é visto nas aulas de história de forma simplista, apenas como um europeu explorador. A obra traz um Portugal diferente do apresentado ao senso comum na história da colonização brasileira, um Portugal que não é Europa, uma vez que possui uma cultura distinta dos demais países europeus, apresentando um espírito expansionista de aventura e que desconhecia um sistema metódico para a conquista patrimonial.
Ele explora cada capítulo tomando como base clássicas dicotomias, como trabalho e aventura, mundo rural e urbano, sociedade civil e militar, trabalho braçal e intelectual, patrão e empregado, entre outras. A relação do brasileiro com o trabalho é justificada no texto pela forma em que se estabeleceu o vínculo patrão e empregado – a partir claro da relação senhor e escravo – uma vez que essa relação não se baseava apenas no fator econômico, pois o dono era também responsável moral pelo escravo perante a sociedade. O sentido de trabalho que o livro apresenta traz ao pé da letra a origem latina da palavra, a qual significa castigo. O trabalho braçal ficava para os escravos e colonizados. Afinal, a labuta era necessária para a exploração da terra e o enriquecimento dos colonizadores. Além do mais, os portugueses não estavam acostumados ao trabalho, àquele tipo de trabalho, mas sim a um espírito de aventura e empreendimento.
Ainda com relação ao trabalho, um intertexto fantástico que a obra sugere é a história de Macunaíma, a qual repousa na questão do nacionalismo brasileiro. A obra modernista também propõe a valorização do jeito de ser do brasileiro, o qual foi alterado com o processo de colonização, como apresentado na obra de Sérgio Buarque. Ainda hoje o brasileiro é visto como preguiçoso, festeiro e até descompromissado. Macunaíma já nasce com muita preguiça e sempre dizendo: “Ai que preguiça...” E isso nada mais é que uma provocação feita pelo autor. Dessa forma, ao ler a obra Raízes do Brasil, confirma-se que Mário de Andrade provoca e critica a sociedade daquela época, a qual massacrou toda uma cultura e um povo para favorecer seus interesses e ainda impôs uma maneira de se viver, bem como a criação literária. O fato de ser culturalmente diferente e de não ser escravizado assim como os negros, deu ao índio a fama injusta de preguiçoso, e não só a ele, mas a todos nós brasileiros, assim como é apresentado na obra Macunaíma.
Atualmente vivemos essa relação com o trabalho, o qual se difere e muito de serviço. Todos almejam ser servidores públicos, muitas vezes falamos que queremos ter um emprego, e não um trabalho. Esse fenômeno vai de encontro com o que o livro questiona: o trabalhador mecânico e o intelectual. Ninguém se torna bacharel para fazer trabalho braçal. Além disso, mais uma vez fazendo a referência de trabalho com castigo – também dada por Roberto da Matta – aquele que não se interessa pelos estudos resta-lhe fazer trabalho manual. E isso em nossa sociedade é colocado, principalmente na escola, como uma conseqüência triste e cruel àquele que não conseguir o anel de formatura. Ainda temos que seguir rituais metódicos para não ficarmos à margem nem sermos considerados preguiçosos, simplesmente porque queremos viver a vida sem ter que sempre estar em busca de algo novo para explorar e acumular riquezas. Na verdade, esse período de colonização descrito no livro, nada mais é que o anúncio desse feroz capitalismo, no qual o trabalho é ainda valorizado como algo que dignifica o homem, todavia só favorece uma minoria que está sempre a fugir dele, buscando funções cada vez mais burocráticas ou altos cargos em empresas privadas. Este último partindo-se de uma visão mais neoliberal, pois não podemos nos esquecer de que hoje a política é o enxugamento do estado, colocando mais e mais empresas terceirizadas no mercado.
Outro ponto bastante pertinente tratado na obra é a relação família e estado, na qual as duas esferas apresentam o homem cordial. Essa cordialidade é o berço da nossa política atual e das relações presentes em instituições públicas e privadas. O povo brasileiro precisou ser solidário e se ajudar mutuamente, tanto que essa é a nossa marca registrada, o “calor humano” e a solidariedade. No entanto, o comportamento dado na instituição família se estendeu ao estado, ou à rua. O vínculo afetivo ditou o tipo de relação existente entre as pessoas, mesmo que essa seja formal. Aliás, é justamente no âmbito formal que a cordialidade é mais evidente, embora não seja clara para muitos por ser algo já banalizado.
O autor mostra o quanto essa figura de homem cordial não possui nada de ingênuo, afinal é a partir dela que temos o fenômeno do coronelismo no Brasil, o qual existe ainda hoje nos centros urbanos. A figura do político como a de um pai que detém o poder e cuida do seu povo mantendo uma relação sempre de dependência (assistencial), configura a expansão da família para o estado, em que o cidadão recebe benefícios – vejamos a política varguista – porém, além de pagar por eles, continua dependente desse pai e até se sente muito bem e confortável em saber que tem alguém que cuida dele. É assim também no lar, a dependência não é de tudo ruim porque não exige muito esforço, apenas que se aceite o sistema. Caso se escolha outro caminho, será preciso conquistar a independência, o que talvez não seja ainda a opção da maioria dos brasileiros.
O livro aborda outras questões que compõem o panorama político e social do nosso país, desde a entrada dos portugueses em território brasileiro até a República. Ele apresenta esse panorama ao mesmo tempo, de forma descritiva e dialética, no qual há questões latentes que apontam a um novo paradigma no que tange a concepção dada ao Brasil-colônia e à relação entre colono e colonizado e entre senhor e escravo. Contudo, acredito que a leitura torna-se mais proveitosa mediante um maior conhecimento da História de Portugal, pois é justamente nesse Portugal que entra em nosso país que consiste a raiz do nosso Brasil.


sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Lusa - a Matriz Potuguesa



Já faz tempo que escrevi esse texto mas ainda não havia publicado, no entanto, nunca é tarde e esse nosso encontro foi muito produtivo e gostaria de compartilhar. Infelizmente perdi as fotos que tirei da nossa visita, mas aí está o registro.
Nosso quarto encontro foi realizado no CCBB, na exposição LUSA : A MATRIZ PORTUGUESA, no CCBB. Uma cursista havia ido com seus alunos e sugeriu que fôssemos também, achei bastante pertinente, pois não há como falar de Língua Portuguesa sem conhecer sua história e origem. Chegando lá assistimos a um pequeno filme que falava da formação do povo português. Depois fomos visitar as galerias da exposição que iam desde a pré-história até o Cristianismo medieval. O que foi muito interessante, dentre outras coisas, foi a mostra de diferentes culturas na formação de Portugal, a participação romana, islâmica, judaica e cristã. Na pré-história, vimos que a escrita ainda não havia sido decifrada, isso soa até como algo redundante, uma vez que só existe história quando a escrita passa a ser decifrada. Até então o período é considerado pré-histórico, ou seja, sem escrita não há história. Discutimos então sobre a importância da escrita desde aquela época, e mais, ela já estava fadada a ser de domínio de camadas privilegiadas, pois somente quando foi compreendida por alguém da elite dominante é que passou a ter sentido, uma vez que alguns povos certamente sabiam o que significava aqueles escritos.
Todos nós amamos a visita, foi um momento de muito aprendizado. Ao final visitamos a galeria da Língua Portuguesa, a qual era composta por quadros cronológicos da formação da Língua, uma cama sonora para audição de falas em Português de Portugal, em brasileiro e em árabe, possibilitando a comparação dessas línguas. Havia também vários livros sobre a história da Língua, estudos e teses de autores portugueses, além de exposição de frutos e produtos os que possuem nomes de origem árabe, como alface, almofada, etc.
Um pouco mais sobre essa exposição em Brasília retirei do site http://www.overmundo.com.br/ e trouxe um pouco pra vocês
LUSA – A matriz Portuguesa em Brasília, DF
26/2 a 04/5

Idealizada por Marcello Dantas, LUSA: a matriz portuguesa apresenta o componente que faltava neste passeio pela formação étnico-cultural do Brasil, o elemento europeu e particularmente o português. O espectador terá a oportunidade de conhecer a cultura e a história de Portugal, antes mesmo da era dos Descobrimentos, através da exibição de cerca de 150 peças do acervo de algumas das mais prestigiadas instituições portuguesas. Embora permaneça praticamente desconhecido no Brasil, o passado de Portugal é riquíssimo e começa bem antes da conquista romana, ainda com povos pré-históricos.A exposição busca reunir esse passado de séculos, organizando as diferentes camadas que formaram a etnia, a cultura e a identidade do povo português. Para contar esta história de uma forma narrativa, foram criadas salas dedicadas a períodos e temas, que proporcionam uma imersão nas origens de Portugal, falam da formação de suas fronteiras, mostram sua preparação para uma das maiores aventuras de todos os tempos: o período dos Descobrimentos. Esta trajetória é apresentada através de 147 peças do acervo de 38 das mais prestigiadas instituições portuguesas. Estarão em exposição 39 tesouros nacionais de Portugal, que nunca tinham atravessado antes o Atlântico e muitos sequer haviam deixado o país. Exemplos são um guerreiro calaico de granito (datado provavelmente do século I a.C.), com quase dois metros de altura e pesando uma tonelada, e um torques, que é um colar de ouro maciço usado por estes guerreiros. Um grande percurso pela história antiga, medieval, renascentista, que dá início às comemorações pelos 200 anos da vinda da família real para o Brasil. LUSA esteve montada no CCBB do Rio de Janeiro (de outubro do ano passado a fevereiro deste) e recebeu um público superior a 600 mil pessoas.A EXPOSIÇÃOLUSA – a matriz portuguesa apresenta uma coleção fascinante, com obras emprestadas por instituições de prestígio como o Museu Nacional Arqueológico de Lisboa, o Museu Islâmico de Mértola, a Torre do Tombo, o Museu
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LUSA – A matriz Portuguesa em Brasília, DF
26/2 a 04/5

http://www.objetosim.com.br/





Um pouco de poesia.... ah...o que seria de nós sem ela


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas...
Que já têm a forma do nosso corpo...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares...
É o tempo da travessia...
E se não ousarmos fazê-la...
Teremos ficado... para sempre...
À margem de nós mesmos..."

(Fernando Teixeira de Andrade)

Visita à Feira do Livro - Manhã

No No dia 4/9, fui com os cursistas à 27ª Feira do Livro de Brasília. Quantos livros...de todos os tipos, gostos e tamanhos. Pela manhã conversamos um pouco com duas escritoras no estande da Arco-íris, Vera Lúcia e Rosângela, as quais escrevem livros infantis. Vera Lúcia falou a respeito do gosto pela leitura que precisa ser despertado na criança, mas que para isso o mais importante é que ela tenha um modelo de leitor a seguir, aquele que expressa de forma espontânea o prazer pela literatura. Muitas vezes fomos cobrados na escola por leituras, que ao invés de ser um prazer, tornaram -se verdadeiras torturas. Percebi que em relação a isso, a única, ou melhor, a primeira medida a ser tomada é se desamarrar da cobrança curricular. Não estou dizendo aqui que temos que esquecer o Currículo, pois em boa medida ele é necessário. Mas que o importante é como se trabalha esse compêndio, principalmente no que tange à Literatura. Quanto mais ela for cobrada, menos será vista de forma positiva. E o mais difícil é despertar esse gosto, depois de se conseguir isso, as leituras fluem naturalmente. Isso é o que percebi na minha experiência em sala. De nada adianta insistirmos numa leitura se ela não despertou o interesse do nosso aluno.


Precisa-se dar aquela primeira alavancada, seja qual for a série. Acontece muito (digo isso porque era assim que pensava) do aluno de 5ª a 8ª série, ou de Ensino Médio, ser mais cobrado com leituras extensas e exaustivas, pois muitas vezes o primeiro pensamento do professor é que o fato dele estar alfabetizado - quando está - é suficiente para que ele seja um leitor. Creio que para o desenvolvimento do gosto pela leitura é muito importante a propaganda dos livros, momentos na aula que se comente sobre livros e textos, não se importando com a faixa etária nem a quantidade de páginas, tudo dependerá da forma como serão explorados. Haja vista a delícia que são os livros do André Neves e Jonas Ribeiro, que fazem, nós adultos, nos deleitarmos em suas palavras e imagens.


Logo, vemos e aprendemos com esses autores considerados infantis, que a faixa etária indicativa do livro não pode ser empecilho na construção dos leitores de nossas turmas. Para a formação de leitores não se impõe regras, mas se convida a trilhar diferentes caminhos, não se esquecendo que para os iniciantes nessa caminhada da leitura é preciso um guia, e este pode e deve ser nós professores.


Como falei na importância do guia na formação do leitor, lembrei-me do que a escritora Vera Lúcia falou a respeito desse nosso papel de conduzir ao gosto pela leitura. Cada vez que formos trabalhar um livro é importantíssimo que situemos a história no que diz respeito ao local onde se passa, aos costumes daquele lugar, hábitos alimentares, vestuário e outros. A história tem de estar mais próxima do aluno, para que ele sinta certa intimidade com aquilo que está lendo. Ela então sugeriu que levássemos mapas e outros recursos que possam levar algo concreto daquele livro para os alunos. Tenho certeza que alguns professores já fazem ou já fizeram isso. Se você faz ou fez, deixe seu relato, isso vai enriquecer nossa prática em sala.

As tiradas de Seu Lunga

Seu Lunga está viajando no ônibus e senta um passageiro ao seu lado e pergunta: "Qual é o lado do sol?" - Ele responde:" O lado de fora."

domingo, 31 de agosto de 2008

Reportagem sobre a Educação no Brasil

Discutimos um pouco em nossa aula de quinta passada a respeito da reportagem da Veja sobre a Educação pública brasileira. O que você acha da reportagem? Concorda? Deixe seu comentário. Segue a reportagem. Desculpem qualquer falha, como alguns já sabem estou aprendendo a lidar com esse suporte.
Você sabe o que estão ensinando a ele?

Uma pesquisa mostra que para os brasileiros tudo vai bem nas escolas. Mas a realidade é bem menos rósea: o sistema é medíocre
Monica Weinberg e Camila Pereira

VEJA TAMBÉM
Nesta reportagem• Quadro: Para eles, a Finlândia é aqui
Nesta edição• Prontos para o século XIX
Exclusivo on-line• Mais dados da pesquisa: Literatura e internet

Vamos falar sem rodeios. Em boa parte dos lares brasileiros, uma conversa em família flui com muito mais vigor e participação quando se decide a assinatura de novos canais a cabo, o destino das próximas férias ou a hora de trocar de carro do que quando se discute sobre o que exatamente o Júnior está aprendendo na escola. Quando e se esse assunto é levantado, ele se resumirá às notas obtidas e a algum evento extraordinário de mau comportamento, como ter sido pego fumando no corredor ou ter beliscado o traseiro da professora de geografia. O quadro acima é um tanto anedótico, mas tem muito de verdadeiro. De modo geral, com as nobilíssimas exceções que todos conhecemos, os pais brasileiros de todas as classes não se envolvem como deveriam na vida escolar dos filhos. Os mais pobres dão graças aos céus pelo fato de a escola fornecer merenda, segurança e livros didáticos gratuitos. Os pais de classe média se animam com as quadras esportivas, a limpeza e a manifesta tolerância dos filhos quanto às exigências acadêmicas muitas vezes calibradas justamente para não forçar o ritmo dos menos capazes. Uma pesquisa encomendada por VEJA à CNT/Sensus traduz essa situação em números. Para 89% dos pais com filhos em escolas particulares, o dinheiro é bem gasto e tem bom retorno. No outro campo, 90% dos professores se consideram bem preparados para a tarefa de ensinar. Como mostra a Carta ao Leitor desta edição, sob sua plácida superfície essa satisfação esconde o abismo da dura realidade – o ensino no Brasil é péssimo, está formando alunos despreparados para o mundo atual, competitivo, mutante e globalizado. Em comparações internacionais, os melhores alunos brasileiros ficam nas últimas colocações – abaixo da qüinquagésima posição em competições com apenas 57 países.
Foto Pedro Rubens
O que somos e como nos vemosO ensino brasileiro vai mal, mas pais, alunos e professores lhe atribuem nível altíssimo, como o da Finlândia
A reportagem que se vai ler pretende chamar atenção para as raízes dessa cegueira e contribuir para que pais, professores, educadores e autoridades acordem para a dura realidade cuja reversão vai exigir mais do que todos estão fazendo atualmente – mesmo os que, como é o caso em especial dos pais, acreditam estar cumprindo exemplarmente sua função. Em Procura da Poesia, o grande Carlos Drummond de Andrade provê uma metáfora eficiente do que o desafio de melhorar a qualidade da educação exigirá da atual geração de brasileiros: "O que pensas e sentes, isso ainda não é poe-sia". Uniformizar, alimentar, dar livros didáticos aos jovens e perguntar como foi o dia na escola é fundamental, mas isso ainda não é educação para o século XXI. "Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?", continua nosso maior poeta, morto em 1987. Outra metáfora exata. Os jovens estudantes são como as palavras, com mil faces secretas sob a face neutra e esperando as chaves que lhes abram os portais de uma vida pessoal e profissional plena.
Isso só se conseguirá, como mostra a pesquisa encomendada por VEJA, quando o otimismo com o desempenho do sistema, que é também compartilhado pelos alunos, for transformado em radical inconformismo. A fagulha de mudança pode ser acendida com a constatação de que as escolas que pais, alunos e professores tanto elogiam são as mesmas que devolvem à sociedade jovens incapazes de ler e entender um texto, que se embaralham com as ordens de grandeza e confiam cegamente em suas calculadoras digitais para não apenas fazer contas mas substituir o pensamento lógico. Mais uma vez abusa-se do recurso da generalização para que o mérito individual de alguns poucos não dilua a constatação de que o complexo educacional brasileiro é medíocre e não se enxerga como tal. Quando um conselho de notáveis americanos fez a célebre condenação do sistema de ensino do país ("parece ter sido concebido pelo pior inimigo dos Estados Unidos..."), as pesquisas de opinião mostravam que a maioria dos americanos estava plenamente satisfeita com suas escolas. A comissão viu mais longe e soou o alarme. Agora no Brasil o mesmo senso de realidade e urgência se faz necessário, como resume Claudio de Moura Castro, ensaísta, pesquisador e colunista de VEJA: "Uma crise, uma crise profunda. Só isso salva nossa educação".

Estamos aprendendo muito...

O Curso Alfabetização e Linguagem tem sido muito proveitoso na Dre de São Sebastião. É muito bom ouvir dos cursistas os relatos de suas práticas embasadas em nossas aulas. Tenho aprendido a cada dia com todos. Logo no início do segundo semestre fiz uma avaliação do Curso e perguntei em que esse trabalho estava contribuindo na prática em sala de aula. Fiquei muito feliz ao ouvir discursos como: "estou vendo os textos dos alunos com outros olhos" ou "estou mais flexível na forma de corrigir meus alunos". Discutimos o quanto é importante estarmos sempre revisitando nossa atuação enquanto professores e que para isso se torna muito importante a formação continuada. É uma pena que as turmas não estão com todas as vagas preenchidas. Apesar disso, acredito no trabalho multiplicador de cada um dentro das escolas, principalmente para romper o paradigma instalado de que só professores de Lígua Potuguesa devem se preocupar com o ensino do Português Padrão. Agradeço a todos os meus cursistas pela grande oportunidade de aprendizagem que está sendo dada a mim e a todos os frequentadores do curso. Percebo que muitos dos objetivos do curso já foram alcançados e sei que nossas aulas não serão mais as mesmas depois desse curso. A cada semana temos algo novo a discutir e aprender, e com isso levar ao nosso maior alvo, o aluno.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Olha eu aqui de novo

Desculpem por não ter postado mais, é que estou com um probleminha com a internet em casa. Já tenho alguns textos salvos e em breve serão publicados.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Como ver o texto do aluno com olhar de professor-pesquisador

Clotilde S. Belo Mazochi


“ O professor que não tem preparo para entender o fenômeno da mudança lingüística com a mesma naturalidade que entende o fenômeno da evaporação ou da condensação da água é presa fácil de uma teorização preconceituosa dos fatos de língua.”
(Miriam Lemle)


Na análise do texto da criança é importante que não se contemple apenas os aspectos ortográficos, mas também de textualidade, uma vez que conforme a finalidade do texto, poderão ser permitidos usos de formas variadas.

Tomemos como exemplo o texto publicitário. No slogan da Caixa Econômica Federal : “Vem pra Caixa você também, vem,” o uso do imperativo está em desacordo com a Gramática Normativa. Conforme a Gramática deveria ser “venha”. No entanto, nesse caso é aceitável porque se trata de uma propaganda que tem como intuito chamar a atenção do leitor e cliente, não é porque o agente publicitário desconhece a forma padrão. Assim acontece com o “Faz um 21”, o qual a forma correta seria “faça”, e assim também ocorre em diversas músicas e textos literários.

Dentro da concepção de letramento, é fundamental que sejam bem exploradas as finalidades de cada texto com os alunos. E é também importante lembrar que a revisão e a reescrita do texto fazem parte da produção textual. Pois nem nós temos um texto acabado logo na primeira versão. É de extrema importância que o professor tenha isso em mente, pois muitas vezes o aluno tem seu texto como acabado e corrigido (e às vezes até avaliado com uma nota), sem ao menos ter tido a chance de revisá-lo e reescrevê-lo.

“A produção de um texto escrito envolve problemas específicos de estruturação do discurso, de coesão, de argumentação, de organização das idéias e escolha das palavras, do objetivo e do destinatário do texto, etc. Por exemplo, escrever um bilhete é diferente de escrever uma carta, uma notícia, uma propaganda, um relato de uma viagem, uma confissão de amor, uma declaração perante um tribunal, uma piada, etc. Cada texto tem sua função, e todas essas formas precisam ser trabalhadas na escola” (Cagliari, Alfabetização e Lingüística, p.122). Tendo isso em vista, o comando e as orientações dadas pelo professor, para produção de texto, devem ser bem claras ao aluno.

É importante que, antes de qualquer correção no texto da criança, seja observado o contexto da produção textual, que tipo de texto é, qual a finalidade e quem vai lê-lo. E também por esse motivo “não podemos classificar um texto de certo ou errado da mesma maneira que podemos avaliar uma conta de matemática ou a ortografia de uma palavra como certas ou erradas. Há sempre a interferência do sujeito da linguagem, do autor, na construção da textualidade.” (Coroa, Alfabetização e Linguagem – fascículo 7).

Partindo desses princípios, nesta oficina analisaremos dentro de algumas produções, alguns “erros” de estruturação e outros de ortografia elencados por Cagliari em suas obras “Alfabetização e Lingüística” e “Alfabetização sem Bá-bé-bi-bó-bu”. Apesar de o autor utilizar o termo “erro” em suas obras, prefiro chamar de hipóteses, pois é construindo e desconstruindo suas hipóteses, que a criança atinge sua competência lingüística. O “erro” nada mais é que uma parte do processo de aprendizagem. Com isso ele assume um papel fundamental na produção textual.

Hipóteses na estruturação dos textos escritos

1. Variação Lingüística – Ex: pobrema, barrer, arriba
2. Uso de pronomes – Ex: Eu vi ele
3. Sintaxe
4. Repetição
5. Frases soltas – coerência;
6. Coesão;
7.Caligrafia

Hipóteses ortográficas

1. Transcrição fonética – escreve como fala
2. Uso indevido de letras – xata/chata; dici/disse
3. Hipercorreção – jogol/jogou
4. Modificação da estrutura segmental das palavras
a- troca de letras: voi/foi; bida/vida; save/sabe; anigo/amigo
b- supressão e acréscimo de letras: macao/macaco; sosato/susto
5. Juntura intervocabular e segmentação
Ex.: “eucazeicoéla” (eu casei com ela)
“Jalicotei” (já lhe contei)
6. Forma morfológica diferente ou Dialetalidade
Ex.: adepois (depois)
Ni um (em um ou num)
7. Forma estranha de traçar as letras
8. Uso indevido de letras maiúsculas ou minúsculas
9. Acentos gráficos
10. Sinais de pontuação
11. Problemas sintáticos
Ex.: “era uma vez um gato que um dia ele saiu de casa”

Dessa maneira, nosso olhar diante do texto do aluno tem que ser sensível a suas hipóteses e a partir delas fazermos uma intervenção adequada a cada uma ou até mesmo a cada aluno(a), se for o caso. Sendo assim, não é justo atribuir uma nota ou reprovar a criança porque apresentou “erros” ortográficos os quais qualquer adulto escolarizado pode cometer, até porque nossa língua é arbitrária em muitos aspectos e um deles é a Ortografia. É comum só observar os “erros” e dar evidência a eles, e assim desmotivar o aluno sem apresentá-lo suas qualidades enquanto escritor. “Os acertos em geral não são levados em conta, são admitidos como absolutamente previsíveis... agora, os erros pesam toneladas nas avaliações...”(Cagliari:146)





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. São Paulo, Scipione.
__________________Alfabetização sem bá-bé-bi-bó-bu.São Paulo, Scipione.
COROA, Maria Luiza Monteiro Sales. Leitura, Interpretação e produção de textos no 3º e 4º ciclos. Brasília: CFORM, UnB, 2008. (Coleção Alfabetização e Linguagem, 2)
LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. São Paulo, Ática, 1993.
PEREIRA, Ana Dilma de Almeida. O tratamento do “erro” nas produções textuais: a revisão e a reescritura como parte do processo de avaliação formativa. Revista ACOALFAplp: Acolhendo a Alfabetização nos países de Língua Portuguesa. São Paulo, ano 2, n.3, 2007. Disponível em e ou <
http://www.acoalfaplp.org>. Publicado em: setembro 2007.
PRÓ-LETRAMENTO, Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental: Alfabetização e Linguagem. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

Comentário sobre a origem desse texto


Esse material já é fruto do Curso, pois foi elaborado para uma Oficina de Análise Linguística (a convite da coordenadora Hélia Cristina) dentro de um evento chamado Oficina de Produção de Texto, feito na DRE de São Sebastião, para professores de 3 e 4 série, no dia 3/7/2008. Uma das cursistas, professora Maria Arlete, de 3 série, ministrou uma oficina de refacção textual. Em seus relatos nos encontros ela sempre cita sua prática com seus alunos e vejo o quanto se dedica a produção dos alunos, incentivando, dando suporte e fazendo o que tanto lemos dentro da teoria do letramento. Então, como fui convidada a realizar uma Oficina, também a convidei para participar do evento fazendo outra, uma vez que estava precisando de mais uma. No total foram quatro: Análise Lingüística - Prof. Clotilde; Refacção textual -Prof. Maria Arlete; Tempestade de idéias -Prof. Marcelo e Coesão e Coerência Textual - Prof. Hélia Cristina (coordenadora de 3 e 4 série da DRE de São Sebastião).

Os professores gostaram muito. Percebi na minha Oficina, que muitos desconhecem certas teorias e reforcei a importância da formação continuada, (estou até um pouco chata nisso, não sei como o pessoal tem me tolerado). Mas vi algo bastante positivo, eles estavam abertos à questão do Letramento e da Variação Lingüística. Percebi naquele grupo de professores uma sede por trabalhos nesse enfoque, pois eles mesmos dizem que quase não são oferecidos cursos para 3 e 4 série. Tenho de fato reparado isso e vejo como uma grande falha, pois há um investimento na formação continuada de professores de 1 e 2 séries e mudanças no que tange a série ou ciclo, ou seja, na metodologia, e quando se chega nas séries seguintes, o professor não faz idéia de como vai continuar esse trabalho, aliás, muitas vezes ele nem sabe como foi o trabalho realizado nas séries anteriores. Quando se fala em séries finais, aí é que a coisa se complica mesmo, pois a mudança vai desde a metodologia até o processo de avaliação, que nas séries iniciais deve ser qualitativo (relatórios descritivos) e nas finais é basicamente quantitativo.

Em virtude disso, vê-se a importância do diálogo entre as etapas de ensino, e que esse diálogo se estenda à elaboração dos cursos de formação continuada e ao próprio sistema avaliativo, pois se há uma quebra brusca entre as séries iniciais - e me permito dizer que há até dentro das iniciais - é porque o próprio sistema de ensino permite isso. É importante que tenhamos consciência de como nosso aluno passou pelas séries iniciais. Nas minhas turmas tem sido muito bem explorada essa questão, pois felizmente o curso foi ampliado para professores de 3 e 4 série, o que só serviu para somar e enriquecer nossos encontros. Muitos professores, ou arrisco dizer, nenhum de séries finais, sabia que a avaliação das séries iniciais é feita mediante um relatório descritivo. São esclarecimentos como esse que estã tornando o Curso cada vez mais eficiente e produtivo, uma vez que de nada adianta termos um trabalho de Letramento excelente e ótimos cursos como Profa, Bia, Vira-Basília, se não envolvermos os professoes de 3 e 4 série, e por conseguinte, é claro, os de séries finais.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Poema de Brasília

Brasília é uma cidade repleta de modernidade
Possui arquitetura perfeita
Mas ainda tem muita desigualdade.

Ela tem paisagem em suas ruas
Em seus viadutos crianças nuas

É palco de corrupção
Mas é de todo país essa contaminação
Por isso não digam que aqui só tem ladrão
Tem gente honesta que trabalha duro pelo pão

Brasília, cidade do sonho de Dom Bosco e Juscelino
Cidade da contradição, onde concentra o poder da nação
E famílias na batalha para fazerem parte do avião

Cidade linda, de miscigenação e mistura cultural
A qual é sua maior beleza
Pessoas de todo o Brasil vieram construir a capital
e seus sonhos com certeza

Então a cidade ficou pronta e foi inaugurada
Mas e os sonhos dos candangos?
Ainda estão nos projetos da empreitada?

Uma coisa é certa: encontraram esperança
Pois as satélites lutam por sua órbita
Pelo saneamento, cultura e lazer
E continuam em busca dessa missão insólita

A riqueza arquitetônica de Brasília é fantástica
Porém a sua gente se sobressai a essa beleza
Porque além de conseguir concretizar os projetos do grande Niemayer
Continua sonhando e lutando por um lar sem pobreza

O brasiliense das satélites sofre com a falta de saneamento, cultura e lazer
Mas algo eles têm de sobra: riqueza de dignidade e vontade de vencer

Clotilde Mazochi– 2007

sábado, 5 de julho de 2008

Curso Alfabetização e Linguagem

Em primeiro lugar acho importante falar de como cheguei aqui. Estava em sala de aula com turmas de 7ª e 8ª série e me convidaram para ministrar o curso de Alfabetização e Linguagem, para professores de séries finais. Fiquei em dúvida por um tempo, mas quando vi o material do curso me senti mais segura, uma vez que estudei com a professora Vilma, Maria Luíza e Marta Sherre (a qual comunga da mesma teoria do material feito por Bagno). Então resolvi aceitar a proposta, vi como uma grande oportunidade profissional e também pessoal, pois tenho procurado realmente enxergar os acontecimentos como uma oportunidade, oportunidade de mudança, reflexão, reconstrução e aprendizagem.

Hoje estou como tutora de duas turmas mistas, há professores de séries finais e de séries iniciais (3ª e 4ª série). Essa abertura para as séries finais foi muito bem vinda, pois o diálogo das duas etapas é fundamnetal, uma vez que muitas vezes essa oportunidade não é dada.

Logo no primero encontro fizemos a dinâmica dos marcos profissionais. Foi maravilhoso ouvir o relato dos professores. Cada um trouxe um discurso emocionado, principalmente quando falavam da fase da alfabetização. Alguns com memórias tristes e certos traumas de infância, infelizmente causados pelos seus professores, outros com memórias saudosas e felizes.
Saí desse primeiro encontro muito satisfeita e com a certeza de que tinha muito a aprender com aqueles pofissionais, pois senti que seria uma troca riquíssima.

No segundo encontro falamos sobre quem é o professor de Língua Portuguesa. Durante a discussão tocamos num ponto que achei bastante pertinente e que seviu de ótimo exemplo para introduzir um dos objetivos do Curso. Alguns professoes citaram o caso do preenchimento dos relatórios dos alunos de 1 a 4 série, os quais são avaliados por meio de um relatório descritivo. Foi discutido nesse dia a dificuldade de muitos professores no preenchimento desse documento, foi entào que analisamos o papel da escola e até da graduação nesse preparo. Vimos que até mesmo o professor tem dificuldades na escrita e que essas deveriam ser sanadas na escola e muitas vezes não é. O exemplo do relatório foi excelente para mostrar a importância do letramento, e não só da Alfabetização. Ora, o professor estudou muito, foi até aprovado num concurso e quando assume sua profissão apresenta dificuldades em elaborar um relatório descritivo, onde ele deveria ter aprendido isso? - foi a pergunta que fiz ao grupo -infelizmente não foi na escola, pois eu passei por isso quando assumi minha primeira turma de 1 série. Felizmente sempre tive gosto pela escrita e não foi tão difícil, mas via os professores arrancando os cabelos quando a avaliação passou a ser dessa maneira. Ou seja, o ensino da Língua não está ou não estava sendo eficiente, pois diante de um trabalho profissional, muitas vezes não sabemos como agir. Esse caso dos relatórios foi só um exemplo real e bem significativo para entendermos que não basta só ler e escrever, é preciso dialogar com seu texto e ter consciência de sua finalidade. Se o relatório é uma avaliação bimestral do meu aluno, cognitiva e comportamental, preciso ser imparcial e aquele texto deve de fato retratar o desenvolvimento sócio-cognitivo da criança. Tudo isso entra na dimensão do Letramento, que é algo novo para muitos, mas que tenho certeza de que não o será ao final desse curso.

Os professores estão bem motivados e abertos a avaliarem sua prática a cada encontro, sempre trazendo suas angústias...ah, essas sempre sào trazidas à tona, mas sei que é parte do processo da caminhada de um curso de formação continuada e da própria formaçào de um grupo.

No terceiro encontro...